Por Anderson Araújo
Nos últimos dias o Governo de Sergipe tem sido alvo de duras críticas e cobranças em razão do crescente número de crimes praticados no Estado, o que tem provocado na população sergipana uma inevitável sensação de insegurança. O governador Marcelo Déda ao comentar o assunto em recente entrevista à imprensa, disse entre outras coisas que a polícia sergipana é hoje uma das mais bem pagas do Brasil e que tem investido muito em equipamentos e tecnologia para melhor aparelhar as polícias e o Corpo de Bombeiros. Agora, para Déda, a polícia precisa mostrar resultados em contrapartida a esses investimentos.
É imperativo esclarecer a população sergipana sobre alguns aspectos que talvez ela desconheça. Em primeiro lugar, é bem verdade que o governo tem investido no aparelhamento das instituições de segurança pública, embora esses investimentos ainda não atendam todas as necessidades das instituições e de seus servidores. O grande problema, porém, é que equipamento sem manutenção não dura por muito tempo e, diga-se de passagem, manter os seus bens não é lá uma das especialidades do poder público. Que o digam os servidores do SAMU que há muito vem denunciando o sucateamento das ambulâncias que deveriam estar em perfeitas condições para garantir o atendimento aos usuários do sistema de saúde pública. Imaginar uma ambulância que a porta cai ao ser aberta é no mínimo lamentável.
Na Polícia Militar não é muito diferente, e não são raros os problemas enfrentados pelos policiais em virtude de falta de equipamentos ou de suas precárias condições de uso. Quantas vezes uma guarnição já necessitou empurrar uma viatura para fazê-la pegar no tranco? Quantas viaturas já foram consertadas na base do jeitinho ou da amizade de um oficial ou praça, porque o Estado se eximiu de cumprir sua obrigação? Quantos policiais já foram para as ruas sem colete e até sem arma por não haver quantidade suficiente do equipamento em sua Unidade ou utilizaram um colete vencido, por exemplo? Quantos trabalham em locais que não oferecem as mínimas condições de segurança, conforto e dignidade? Em resumo, não adianta simplesmente adquirir equipamentos e depois permitir seu sucateamento ou simplesmente “esquecer” de fazer as necessárias reposições. E mais, nenhum instrumento é mais importante para o Estado do que os seus recursos humanos, que é o que verdadeiramente move suas engrenagens.
Deixando de lado os equipamentos, falemos de salário. Não se pode negar que o governo Déda promoveu uma melhoria significativa nos salários dos policiais e bombeiros militares. No entanto, esse mesmo governo também criou para si próprio um problema que provavelmente irá persegui-lo até o último dia do seu mandato: a grande diferença salarial existente hoje entre policiais/bombeiros militares e policiais civis, que incomoda não só os praças como também os oficiais. Os militares não são contra a conquista dos colegas policiais civis, e muito menos insensíveis à luta das categorias que ainda não foram contempladas pelo governo, mas em se tratando de segurança pública, é inaceitável para a categoria receber um tratamento tão diferenciado por parte do governo.
Apesar disso, os militares voltaram à luta este ano com outro foco que não a questão salarial. O que eles pedem agora é tão somente mudanças na legislação militar e a aquisição de direitos básicos como a definição de carga horária, a nova Lei de Organização Básica com a consequente regulamentação de Unidades e Subunidades (por Lei e não Decreto) e a redistribuição do efetivo, a fim de abrir os claros necessários para garantir as promoções e o fluxo de carreira, a exigência de nível superior para acesso às carreiras, e ainda o retorno da etapa de alimentação e da gratificação por cursos.
O governo pediu aos militares um voto de confiança durante os festejos juninos, pediu que fosse formada uma comissão e que esta preparasse os projetos de lei com as reivindicações da categoria. Os militares deram esse voto de confiança, o Comando da PM criou a tal comissão, representantes de associações e da própria PM elaboraram os projetos e até agora... NADA. Nenhuma resposta do governo e a insatisfação da categoria só aumenta.
Um dia desses li no Twitter uma postagem do tenente-coronel Rocha que resumia em uma frase o sentimento dos policiais e bombeiros militares. Plagiando os Titãs, ele escreveu: “A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade”. Senhor governador, é esse o sentimento da categoria militar. Um bom salário, por si só, não é sinônimo de alta produtividade, e um bom administrador sabe bem disso. Essa tal “felicidade” pode significar além de um bom salário, promoções no tempo devido, condições dignas de trabalho, tratamento igualitário dentro da segurança pública, concessão e respeito aos direitos mais básicos do militar, como por exemplo, a liberdade de expressão, entra tantas outras coisas. Que o governador Marcelo Déda e seus assessores possam pensar nisso e promover essa tal “felicidade”, porque a gente não quer só dinheiro.
Anderson Araújo é 1º Sargento da PMSE, bacharel em Administração e presidente da Associação de Praças Militares de Sergipe.
Artigo reproduzido em:
Blog do Cláudio Nunes / Portal Infonet
Prezado Anderson, parabéns pelo texto! E obrigada pela menção ao SAMU... Esse sentimento é o mesmo vivido por nós dentro do SAMU, só que com um agravante, não temos bons salários, ou melhor, temos péssimos salários (para não dizer vergonhosos). Vivemos hoje a pior fase do SAMU em Sergipe, onde nossa frota entrou em um processo crescente de sucateamento, mesmo o governo federal custeando 50% do total das depesas do SAMU! São ambulâncias que não possuem manutenção preventiva e a corretiva, feita quando a viatura quebra por completo, é ineficiente, o que faz com que das 50 equipes que deveriam estar trabalhando diariamente, tenhamos apenas 37 a 40 equipes para atender a 74 municipios do estado, ficando o restante ociosa no seu local de trabalho por não terem o instrumento para desempenharem suas funções, a ambulância. Aliado a isso, os alojamentos dos profissionais são ruins, não possuem segurança e muitas vezes nem o minímo para que uma equipe permaneça 24h de plantão, como por exemplo, tendo que utilizar banheiro público, porque o local não ofereçe um exclusivo para os profissionais. E por falar em profissionais, vale ressaltar que assim como ele trouxe uma diferença salarial entre policiais/bombeiros militares e policiais civis, na saúde não é diferente e o que é pior, profissionais que possuem a mesma função/cargo, trabalhando no mesmo local, possuem não só salários distintos, como carga horária também. Hoje, infelizmente, o caos é geral: saúde e segurança renegados a segundo plano, como se fossem serviços irrelevantes para a sociedade!Se investe tanto em equipamentos, em tijolos e concreto e esquecem que o maior patrimônio do serviço público é o servidor. Este merece ser valorizado, possuir condições de trabalho para desempenharem suas funções com qualidade e eficiência...
ResponderExcluirLendo este artigo a primeira sensação que sinto é de que fui iludida! Sou do Rio de Janeiro e aliei-me aos PMs e BMs,da minha cidade,em sua ferrenha luta por dignidadde e salário justo.E sempre nos era colocado, como modelo a ser aspirado, a situação dos BMs e PMs de Sergipe Qual não foi minha decepcionante surpresa ao constatar a situação,de sucateamento e desrespeito por que passam as forças policiais sergipanas.Em que nos resta crer,então?
ResponderExcluirA grande verdade,é q em todo o território nacional,os Governos não priorizam a Segurança Pública,da mesma forma como não priorizam a Educação e a Saúde,porque simplesmente não priorizam a população...
Então não há nada a fazer?Claro que há! Dormimos "em berço esplêndido" por muito tempo,é hora de acordar,lutar e tomar de volta nas nossas mãos o País que nos pertence por direito.
E com palavras também se guerreia,porque palavras formam consciências lúcidas e esclarecidas, e mentes antenadas e renovadas são capazes de mudar o curso da história.
Parabéns Anderson,pela clareza do texto,pela coragem e pela brilhante liderança nessa luta!
Contem comigo porque "JuntosSomosFortes"
Grande abraço,
Inez Leite (@MMCInez)