A população de alguns bairros de Contagem viveram 07 dias sob o toque de recolher imposto por traficantes. Tal prazo foi determinado pelos marginais, demonstrando uma audácia sem precedentes. Parecia até Rio de Janeiro. Ônibus incendiado; comércios, escola e posto de saúde de portas fechadas; população amedrontada.
Eu acompanhei o desenrolar desses fatos históricos pelas vozes de Laudívio Carvalho, Camila Dias e Carlos Viana, todos da Rádio Itatiaia. Na sexta-feira, tambei acompanhei incrédulo o fato sendo noticiado pelo Jornal Nacional, da Rede Globo. Não imaginava que os acontecimentos iriam tomar tamanha repercussão. As notícias foram tão graves que o atual governador se reuniu com os comandos das Polícias Militar e Civil para discutir o assunto.
De fato, nunca pensei que tamanha ousadia fosse acontecer aqui em Minas Gerais. Bandidos impondo terror de maneira tão explícita, marcando toque de recolher com data de início e término, população obedecendo fielmente ao poder paralelo, mesmo com a presença maciça da polícia. É algo sobre o qual devemos refletir. Como o tráfico chegou a ter tal poder em nosso Estado? Como podemos evitar fatos semelhantes?
Vou aqui dar minha opinião sobre esses acontecimentos, fazendo uma associação com o poder do narcotráfico.
Começo meu posicionamento com uma pergunta: Verdade ou mentira que, neste exato momento, está acontecendo um crime, a polícia sabe, mas mesmo assim não se faz presente no local?
Ora, tráfico de drogas é crime, previsto no artigo 33 da Lei nº 11.343/06. Sabendo do fato delituoso, a polícia deve comparecer ao local e prender o infrator, concordam comigo? Então, companheiro policial, faço-lhe outra pergunta: Quantos pontos de tráfico de drogas que você conhece que neste exato momento não estão sendo efetivamente policiados? Quantas viaturas estão neste momento no centro comercial de cidade X e quantas estão em cada um dos pontos de venda de drogas dessa cidade hipotética?
Já falei aqui neste blog que, na minha opinião, a polícia deve estar onde está acontecendo o crime, da mesma forma que o artista deve estar onde o povo está. Polícia para quem precisa de polícia, já diz a música.
Então, companheiro, eu não vejo lógica em ver uma viatura fazendo ponto-base ou patrulhamento na área comercial e bancária de uma cidade sabendo que em determinado local perto ou distante dali está acontecendo um crime naquele exato momento. Se o criminoso não é preso, ele vai se fortalecendo, se fortalecendo... e vira poder paralelo. O tráfico de drogas especialmente, porque ele precisa de um território seguro para comercializar seu veneno. Precisa de espaço para espalhar os olheiros no terreno a fim de monitor a chegada da polícia, para controlar quem entra e quem sai, para guardar o "produto" com segurança, etc.
O tráfico se instala aos poucos; aos poucos ele vai amedrontando ou cooptando os moradores locais, aos poucos a polícia vai prendendo, aos poucos os traficantes e associados vão sendo soltos em virtudes de lei cegas e, de pouco em pouco, o tráfico vira um monstro, ponto no qual a população perde a confiança na polícia e no Estado de maneira geral, ponto no qual mesmo uma megaoperação não é capaz de restabelecer a tranquilidade e a paz social. Como dizem os moradores, um dia todo esse aparato vai embora, e aí?
E aí é que, enquanto não existirem leis eficientes, rigorosas, enquanto a polícia for a única culpada pela criminalidade, tudo continuará da mesma forma que está, com tendência a piorar.
A droga está tomando conta, por todo lado, até em cidades pequenas e zonas rurais. Virou epidemia. O que fazer? Aos políticos cabem fazer uma reforma profunda nas leis penais, à Polícia Militar cabe estar onde o crime está acontecendo, à Polícia Civil cabe investigar e colher provas da ação delituosa, ao Poder Judiciário cabe punir com rigor e ao Sistema Prisional cabe aplicar a pena e, na medida do possível, ressocializar o condenado.
Fonte: Blog Universo Policial
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