segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Reféns da criminalidade"

As últimas notícias negativas de maior repercussão em Sergipe deságuam, sem dúvida alguma, na Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) - um gargalo indiscutível que o governador Marcelo Déda parece não ter mais tempo de transformar em um marketing positivo a iluminar o caminho para sua reeleição. Apesar de ter investido em segurança e pagar os melhores salários da história da polícia sergipana, Déda e sociedade não tiveram o retorno satisfatório.

Se o governador conseguir a reeleição, a SSP, certamente, será levada na carona de outras áreas do seu governo. Ou mesmo a reboque de outros mecanismos de praxe na política para se obter êxito nas urnas. Desta forma, é difícil imaginar um Déda satisfeito com o trabalho desempenhado pela SSP, ainda que ele diga o contrário, haverá sempre dúvida.

A Constituição vela que cabe ao governador, enquanto chefe do Executivo, a responsabilidade maior de prover segurança. Sendo assim, a sensação de impotência frente à intranquilidade ululante não encontra sintonia nos investimentos feitos pelo governo. O problema parece induzir a uma indagação: houve a falência do projeto de segurança?

O atentado contra o presidente do TRE, o desembargador Luiz Mendonça, e, por tabela, contra o seu motorista, o cabo da Polícia Militar, Jailton Batista, aconteceu num curtíssimo espaço de tempo, em uma semana mais ou menos, antes do estupro praticado por um policial militar contra uma senhora, cuja filha já havia sido estuprada pelo mesmo policial.

Praticamente, o mesmo tempo separa o terror vivido por Mendonça e Jailton do dia em que um PM matou um colega de farda na Orla da Coroa do Meio. E, por fim, na mesma semana, houve a veiculação da notícia por parte do Correio de Sergipe de que a casa de, ninguém menos que João Eloy, delegado e secretário de Estado da Segurança Pública, foi invadida por um bandido. Eloy tratou de desmentir, apesar de admitir que seu filho percebeu a presença do estranho "nos fundos da casa".

É interessante notar a gravidade dos fatos registrados num curto espaço de tempo. O sergipano se permite ao luxo de não precisar mencionar os crimes de menor repercussão registrados no mesmo período, para mostrar a indiscutível vulnerabilidade, que, aliás, justifica a grita do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Sergipe (OAB/SE), o advogado Carlos Augusto Nascimento. "Todos nós estamos reféns da criminalidade", observou, ao comentar o atentado contra Luiz Mendonça.

O que mais impressiona, entretanto, é a acomodação. Ninguém se sente seguro, mas há algo mais forte a sufocar a grita. Exceto a OAB e alguns membros da oposição, nem todos parecem enxergar a falência anunciada. A dimensão real do problema. Os últimos crimes praticados em Sergipe, inclusive o número de mortes no chamado confronto bandido x polícia, guardados a sete chaves pela SSP, podem estar alertando sobre a falência do projeto.

Evidente que jamais se deve afirmar que um atentado tem o seu lado positivo. Mas se isso tivesse amparo no mundo real, um dos argumentos a sustentar a lógica, por certo, seria o fato de o atentado contra o desembargador e o PM dizer aos responsáveis pela Segurança Pública em Sergipe que chega. Não dá mais para ficarmos no discurso.

Num estado onde a marginalidade, independente de motivação, afronta um policial que faz a segurança de um desembargador e tenta matar os dois à luz do dia, o que estaria reservado aos demais sergipanos? E se Luiz Mendonça não tivesse escapado? O motorista ainda está no hospital.

Se o governo do Estado investiu alto em segurança, e o atual secretário é quase unanimidade, por que não se tem segurança? Há algo errado. E a sociedade está pagando um alto preço pelo erro. Um preço que não tem preço: a vida em xeque.

Ou brinca-se de fazer Segurança Pública em Sergipe, ou a aptidão para combater a criminalidade parece passar distante dos responsáveis pelo ofício. O difícil é decifrar qual das duas alternativas espelha a bofetada mais violenta no rosto da sociedade.

Da redação Universo Político.com

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Para saber mais:

Polícia Militar lamenta falecimento do Cabo Hélio Menezes - http://asprase.blogspot.com/2010/04/policia-militar-lamenta-falecimento-do.html

Crime de PM foi motivado por disputa em estacionamento - http://asprase.blogspot.com/2010/08/crime-de-pm-foi-motivado-por-disputa-de.html

Cabo: Polícia já tem suspeitos do homicídio - http://asprase.blogspot.com/2010/08/cabo-policia-ja-tem-suspeitos-do.html

Escrivão assassinado em Frei Paulo é sepultado na Capital - http://asprase.blogspot.com/2010/06/escrivao-assassinado-em-frei-paulo-e.html

Corpo de Sargento é sepultado - http://asprase.blogspot.com/2010/06/corpo-de-sargento-e-sepultado.html
Em 2009, dos 322 policiais militares mortos no País, 5% cometeram suicídio, 30% morreram em serviço e 65% morreram no exercício de atividades paralela - http://asprase.blogspot.com/2010/05/em-2009-dos-322-policiais-militares.html

Sargento da PM é assassinado em quartel da Capital - http://asprase.blogspot.com/2010/05/sargento-da-pm-e-assassinado-em-quartel.html
Policiais militares prestam às últimas homenagens ao soldado Abel - http://asprase.blogspot.com/2010/02/policiais-militares-prestam-ultima.html

Comoção marca sepultamento do Polícial Civil Sério Figueirêdo - http://asprase.blogspot.com/2010/01/comocao-marca-sepultamento-do-policial.html

Nota de falecimento – Polícia Militar lamenta falecimento do soldado Antônio Wagner dos Santos - http://asprase.blogspot.com/2009/08/nota-de-falecimento-policia-militar.html

Ciosp admite erro que levou a morte de comerciante - http://asprase.blogspot.com/2010/01/ciosp-admite-erro-que-levou-morte-de.html

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