sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A tarefa de limpar a Polícia do Rio de Janeiro

Atolado num processo de "medelinização", com o narcotráfico cada vez mais ousadamente encurralando os poderes constituídos, o México toma a decisão drástica de promover uma limpeza radical nas forças de segurança do país. Nada menos que 3.200 policiais federais, o equivalente a 9% do efetivo da corporação, foram expulsos por suspeita de corrupção e ligação com o crime organizado. A polícia colombiana, por sua vez, entre 1992 e 1995, defenestrou 17 mil agentes (de uma força com um total de 90 mil homens), acusados de práticas como corrupção, violação dos direitos humanos, ligação com o crime e indisciplina.

A relação entre maus policiais e indicadores negativos de criminalidade é direta. Na Colômbia, o número de homicídios caiu 70% após a faxina na polícia (que elevou de 17% para mais de 70% o índice de aprovação da corporação). No México, encurralado pela escalada de ações violentas do narcotráfico, fala por si a expulsão de quase 10% do efetivo da força policial, como medida desesperada para conter o avanço do crime organizado nas instituições.

São exemplos sobre os quais as autoridades de segurança fluminenses têm obrigação de se debruçar. Se não alcançou o patamar de afrontas que levaram a Colômbia à beira do caos institucional, e parece arrastar o México para igual cenário de assombração, o Estado do Rio se defronta episodicamente com situações que remetem ao mesmo fantasma.

Em duas semanas, a capital viveu dois exemplos de como a segurança pública tem picos de deterioração na luta contra o crime organizado e na instituição policial. Do primeiro caso, foi evidência a ocupação de ruas e um hotel de São Conrado por um comando de traficantes. Do segundo, que dá conta da degeneração no quadro de pessoal, foi emblemática a prisão de um capitão da PM que, fardado, julgava colegas de corporação, e, paisano, roubava cabos telefônicos.

Por incontornável, a assepsia na polícia do Rio deve ser feita de maneira a não se perder a oportunidade histórica. Que os exemplos de Colômbia e México sirvam de paradigma. O primeiro país, como método a seguir, com uma faxina planejada que logrou fazer uma filtragem bem-sucedida, recuperando uma corporação desacreditada sem escorregar nos aspectos jurídicos (os policiais expulsos não recorreram à Justiça). O segundo, como exemplo a evitar: agir sem planejamento, quando a situação se deteriorar, como fez o México, é dar chance a equívocos fatais.

Deve-se reconhecer que o governo estadual não tem fugido ao desafio de enfrentar a banda podre, do que é prova a progressão de desligamentos na força nos últimos três anos. Segundo a PM, 767 policiais foram expulsos desde 2007. Do ano passado até março de 2010, haviam sido afastados 518, cerca de 300 deles somente em 2009. Mas é preciso também rever os critérios de admissão e a política de remuneração. São passos a serem dados com urgência, para evitar que aqui se repita o colapso que levou a Colômbia ao fundo do poço e ameaça para lá empurrar o México.

Fonte: Jornal O Globo

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