terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Um poeta na corporação

Wedmo Mangueira já ganhou vários prêmios de literatura no Estado e virou mais um motivo de orgulho do CBMSE


Wedmo Dantas Mangueira Neto recebendo prêmio no 1º Concurso Literário Louis Braille promovido pela Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe (Adevise)

O Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe é um ambiente majoritariamente masculino, e não muito delicado em suas tarefas de apagar fogo e resgatar bichos. Mas como em toda regra há uma exceção, o cabo Wedmo Mangueira chama a atenção dos colegas do CBMSE e da população pela diferenciada sensibilidade - porque, no geral, os demais bombeiros também tem sensibilidade. É um poeta. E dos bons. Já ganhou, inclusive, muitos prêmios de literatura. E o que chama mais a atenção não é o fato de existir um poeta na instituição, mas de ela mesmo ter sido sua inspiração.

"Quanto entrei para o Corpo de Bombeiros já escrevia. Mas não era nada sério. Depois que virei guarda-vidas tive mais inspiração e começei a escrever pra valer", afirma Wedmo Mangueira. Segundo ele, sua maior inspiração é o mar. Por isso pretende lançar um livro de poemas o tendo como tema. "Se fosse só para lançar uma coletânea, já teria poemas suficientes. mas quero lançar um livro que fale do mar", explica Wedmo.

De acordo com ele, os colegas de corporação estranham um pouco o fato de ele ser um poeta - embora nada de "estranho" haja a "estranhar". Mas também se orgulham. "Quando sai alguma coisa (na imprensa) falando de um prêmio que eu ganhei, eles recortam e põem no mural", comenta. E por falar em prêmios, apesar de uma "carreira" ainda curta na literatura, Wedmo já coleciona algumas vitórias. "O primeiro concurso que participei foi o de música, numa emissora de TV. Eu escrevi a letra e um amigo - Heitor Mendonça - fez a música. Ficamos em 1º lugar", orgulha-se.

Ainda em 2009, Wedmo Mangueira ganhou o segundo lugar no 1º Prêmio João Sapateiro de Poesia Popular, em Laranjeiras, e o primeiro lugar no 1º Concurso literário Louis Braille, da Associação dos Deficientes Visuais, Adevise. "Esse foi o mais difícil, porque tive que escrever sobre a importância do Braille - sistema pelo qual deficientes conseguem distinguir as letras -, para a cidadania dos deficientes visuais", diz ele.

Em 2010 ele conseguiu o primeiro lugar na segunda edição do Prêmio João Sapateiro de Poesia Popular. Diante do talento premiado e da inspiração constante, Wedmo tenta conciliar sua rotina de Guarda-Vidas com a de escritor. "Não é muito fácil. São coisas diferentes. Mas tento fazer o melhor nos dois casos", argumenta.

Exemplos

Todo poeta tem uma inspiração. Um escritor em qual se espelha. Com Wedmo Mangueira não é diferente. "Gosto muito de Cecília Meirelles, principalmente de Mar Absoluto & Outros poemas. Também gosto de Carlos Pena Filho, poeta de Recife, e de Zila Mamede, do Rio Grande do Norte", revela. Porém, sem dúvida, sua maior inspiração é a própria profissão. Tanto que Wedmo escreveu um poema sobre guarda-vidas:

O guarda-vidas

Olhos postos no mar, que a sua lida
é mirar o infinito mar afora...
Olhos postos no mar, que o mar convida,
mas, esfinge que é, também devora.

Quando o mira da areia, o guarda-vidas,
um duelo é travado nessa hora:
de um lado, a coragem destemida;
do outro lado, a grandeza que apavora.

No duelo com o mar, esse homem forte,
de onde as ondas rebentam, vai além...
Mas injusta, decerto, é sua sorte:

mesmo que inda resgate oitenta ou cem,
lá no fundo, ao perder alguém pra morte,
ele sente algo em si morrer também!

Wedmo Mangueira

De acordo com o cabo, sua poesia é livre, embora escreva poemas de estrutura fixa, como sonetos. "Criar um novo ritmo é mais difícil. Por isso prefiro escrever poemas de métricas já definidas" reconhece. De qualquer forma, Wedmo Mangueira é mais um que vai ajudando a escrever a história do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe. E com apoio inestimável da palavra.

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Música em homenagem ao aniversário do Rio Sergipe, cantada em apresentação no dia 03 de novembro de 2009


Rio para não chorar

Rio do menino que brinca,
rio da menina que chora,

do homem que virou peixe,

rio daquela senhora


que passa a vida a esperar

a volta de um pescador

que se encantou com o mar

e nunca mais retornou.


Rio das águas serenas,

leva suas penas

pra outro lugar.


Rio das águas serenas,

leva suas penas

pro meio do mar.


Rio da poluição

que manchou toda a paisagem.

Quem dera a devastação

fosse somente miragem.


Rio, tu que foste tão forte,

hoje vive a agonizar,

rio em seu leito de morte,

rio para não chorar.


Heitor Mendonça e Wedmo Mangueira

Fonte: Jornal Cinform/Blog de Wedmo (http://wedmomangueira.blogspot.com/)

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