Modelo adotado há mais de cem anos mostra por que o Japão é um dos países com menor índice de violência do mundo.
Determinadas áreas de Tóquio dão a impressão de que você desembarcou em algum outro planeta onde a civilização já está num estágio mais avançado. Mas, para um brasileiro, talvez o mais marcante não seja a alta tecnologia presente nas tarefas banais do dia-a-dia ou o visual das pessoas, um degrau acima do que conhecemos por modernidade.
O mais impressionante é a sensação de segurança no meio do caos urbano. Perdeu a carteira? Calma. A chance de encontrá-la intacta no posto policial mais próximo é bem maior do que na maioria das grandes capitais mundiais.
O Japão tem baixos índices de criminalidade, e um dos pontos centrais da política de segurança pública — um fator que atrai especialistas de vários países — é o policiamento comunitário. O sistema de kobans, criado há mais de cem anos, é uma experiência que deu certo e faz parte da rotina dos japoneses. São pequenos postos policiais espalhados por todo o país, cujo princípio básico é prevenir crimes e acidentes.
Confiança é a marca do serviço. Os policiais não estão ali apenas para garantir a ordem. Eles prestam serviços não emergenciais. Se alguém se perde e não consegue achar um endereço — coisa que acontece o tempo todo em Tóquio porque a maioria das ruas não tem nome —, é só procurar uma koban. Os policiais têm um mapa detalhado da região. Se o pneu de um carro ou de uma bicicleta furou, eles ajudam. Guardam também objetos perdidos, de celulares de última geração a prosaicos guarda-chuvas. Nas horas vagas, é comum ensinarem algum esporte para as crianças nas escolas locais. E assim estabelecem uma relação de confiança com a população que permite a troca de informações, fazendo dos moradores agentes de segurança voluntários.
“Os policiais comunitários estão sempre muito visíveis e isso não apenas ajuda a prevenir crimes, como faz a população sentir a existência da polícia muito próxima de suas vidas. Os agentes devem mergulhar na situação da segurança de suas áreas e ouvir opiniões, pedidos e preocupações dos moradores, além de colaborar com as autoridades municipais”, explica o site oficial da Agência de Polícia Nacional.
— Em outras palavras, no Japão, o policial mostra a cara, não é uma figura distante. O morador sabe quem ele é e sua proximidade muda a percepção que a população tem das forças de segurança. A polícia mostra à sociedade que existe uma lei e que segurança pública é um problema de todos, e todos podem ajudar — resume o paulista Zare Ferragi, especialista em segurança pública que está fazendo seu doutorado no Japão e estudando o policiamento comunitário, um modelo já exportado, por exemplo, para lugares tão distintos quanto Cingapura e o estado de São Paulo.
Existem seis mil kobans espalhadas pelo Japão, além de sete mil chuzaishos, que seriam kobans das áreas rurais, nos quais os policiais moram no mesmo local em que trabalham. Numa koban, atuam poucos homens: entre três e cinco em média, mobilizando cerca de 30% do total da corporação. Nos chuzaishos, há apenas um agente. As estações policiais maiores são bem equipadas e fortemente armadas, como seria de se esperar num país rico, mas os policiais comunitários circulam, geralmente, a pé ou em bicicletas bastante simples, brancas, para fazer o patrulhamento.
Eles ajudam a controlar o trânsito nas horas mais movimentadas e fazem visitas periódicas às casas e ao comércio de cada região, montando um mapeamento completo da vizinhança. Sabem quem mora e quem trabalha na área de sua jurisdição — que nunca é muito extensa — e também onde estão os possíveis focos de problema.
Polícia de SP faz intercâmbio
A repressão policial no Japão é rigorosa, mas numa koban o atendimento à população é, em geral, respeitoso. Mesmo para um estrangeiro, que não fala fluentemente a língua, a sensação de que você é um inimigo em potencial ou um estorvo — tão comum em delegacias de várias partes do mundo — não é a regra.
Outro hábito que não passa desapercebido para um brasileiro — crianças pequenas, às vezes com menos de 7 anos, indo para a escola sozinhas, a pé ou de metrô — é garantido por essa relação entre polícia e comunidade. Na hora da entrada e da saída das escolas, voluntários ficam de olho no itinerário dos menores.
— Os cidadãos ajudam nessa patrulha. Se alguém vê algo errado ou suspeito, informa para a koban. Esse é um serviço muito comum entre as pessoas mais idosas, aposentadas — explica Zare, lembrando que em qualquer lugar do mundo existe corrupção policial, mas no Japão os casos se concentram nas esferas mais altas da corporação.
— O policial comum, aquele que está em contato com o público, tem uma boa imagem, conta com respeito da população e não vai se sujar por qualquer coisa. E, além disso, recebem salários que permitem que vivam com dignidade — acrescenta.
Desde o ano passado, Tóquio passou a permitir a presença de mulheres entre os policiais que trabalham nas kobans no turno da noite, quando ocorrências violentas são mais comuns. Há poucas policiais femininas, cerca de 2.300, o que representa 5% do total no país. Mas era uma reivindicação dos moradores da capital, que queriam a presença das policiais para atender casos em que a vítima de um crime é mulher.
Em junho, 11 PMs de São Paulo fizeram um programa de intercâmbio no Japão para ver de perto os fundamentos da polícia japonesa.
Fonte: Blog do Lomeu
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Para saber mais sobre Polícia Comunitária, clique no link: http://asprase.blogspot.com/search/label/policia%20comunitaria
Determinadas áreas de Tóquio dão a impressão de que você desembarcou em algum outro planeta onde a civilização já está num estágio mais avançado. Mas, para um brasileiro, talvez o mais marcante não seja a alta tecnologia presente nas tarefas banais do dia-a-dia ou o visual das pessoas, um degrau acima do que conhecemos por modernidade.
O mais impressionante é a sensação de segurança no meio do caos urbano. Perdeu a carteira? Calma. A chance de encontrá-la intacta no posto policial mais próximo é bem maior do que na maioria das grandes capitais mundiais.
O Japão tem baixos índices de criminalidade, e um dos pontos centrais da política de segurança pública — um fator que atrai especialistas de vários países — é o policiamento comunitário. O sistema de kobans, criado há mais de cem anos, é uma experiência que deu certo e faz parte da rotina dos japoneses. São pequenos postos policiais espalhados por todo o país, cujo princípio básico é prevenir crimes e acidentes.
Confiança é a marca do serviço. Os policiais não estão ali apenas para garantir a ordem. Eles prestam serviços não emergenciais. Se alguém se perde e não consegue achar um endereço — coisa que acontece o tempo todo em Tóquio porque a maioria das ruas não tem nome —, é só procurar uma koban. Os policiais têm um mapa detalhado da região. Se o pneu de um carro ou de uma bicicleta furou, eles ajudam. Guardam também objetos perdidos, de celulares de última geração a prosaicos guarda-chuvas. Nas horas vagas, é comum ensinarem algum esporte para as crianças nas escolas locais. E assim estabelecem uma relação de confiança com a população que permite a troca de informações, fazendo dos moradores agentes de segurança voluntários.
“Os policiais comunitários estão sempre muito visíveis e isso não apenas ajuda a prevenir crimes, como faz a população sentir a existência da polícia muito próxima de suas vidas. Os agentes devem mergulhar na situação da segurança de suas áreas e ouvir opiniões, pedidos e preocupações dos moradores, além de colaborar com as autoridades municipais”, explica o site oficial da Agência de Polícia Nacional.
— Em outras palavras, no Japão, o policial mostra a cara, não é uma figura distante. O morador sabe quem ele é e sua proximidade muda a percepção que a população tem das forças de segurança. A polícia mostra à sociedade que existe uma lei e que segurança pública é um problema de todos, e todos podem ajudar — resume o paulista Zare Ferragi, especialista em segurança pública que está fazendo seu doutorado no Japão e estudando o policiamento comunitário, um modelo já exportado, por exemplo, para lugares tão distintos quanto Cingapura e o estado de São Paulo.
Existem seis mil kobans espalhadas pelo Japão, além de sete mil chuzaishos, que seriam kobans das áreas rurais, nos quais os policiais moram no mesmo local em que trabalham. Numa koban, atuam poucos homens: entre três e cinco em média, mobilizando cerca de 30% do total da corporação. Nos chuzaishos, há apenas um agente. As estações policiais maiores são bem equipadas e fortemente armadas, como seria de se esperar num país rico, mas os policiais comunitários circulam, geralmente, a pé ou em bicicletas bastante simples, brancas, para fazer o patrulhamento.
Eles ajudam a controlar o trânsito nas horas mais movimentadas e fazem visitas periódicas às casas e ao comércio de cada região, montando um mapeamento completo da vizinhança. Sabem quem mora e quem trabalha na área de sua jurisdição — que nunca é muito extensa — e também onde estão os possíveis focos de problema.
Polícia de SP faz intercâmbio
A repressão policial no Japão é rigorosa, mas numa koban o atendimento à população é, em geral, respeitoso. Mesmo para um estrangeiro, que não fala fluentemente a língua, a sensação de que você é um inimigo em potencial ou um estorvo — tão comum em delegacias de várias partes do mundo — não é a regra.
Outro hábito que não passa desapercebido para um brasileiro — crianças pequenas, às vezes com menos de 7 anos, indo para a escola sozinhas, a pé ou de metrô — é garantido por essa relação entre polícia e comunidade. Na hora da entrada e da saída das escolas, voluntários ficam de olho no itinerário dos menores.
— Os cidadãos ajudam nessa patrulha. Se alguém vê algo errado ou suspeito, informa para a koban. Esse é um serviço muito comum entre as pessoas mais idosas, aposentadas — explica Zare, lembrando que em qualquer lugar do mundo existe corrupção policial, mas no Japão os casos se concentram nas esferas mais altas da corporação.
— O policial comum, aquele que está em contato com o público, tem uma boa imagem, conta com respeito da população e não vai se sujar por qualquer coisa. E, além disso, recebem salários que permitem que vivam com dignidade — acrescenta.
Desde o ano passado, Tóquio passou a permitir a presença de mulheres entre os policiais que trabalham nas kobans no turno da noite, quando ocorrências violentas são mais comuns. Há poucas policiais femininas, cerca de 2.300, o que representa 5% do total no país. Mas era uma reivindicação dos moradores da capital, que queriam a presença das policiais para atender casos em que a vítima de um crime é mulher.
Em junho, 11 PMs de São Paulo fizeram um programa de intercâmbio no Japão para ver de perto os fundamentos da polícia japonesa.
Fonte: Blog do Lomeu
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