Nas últimas semanas a mídia tem evidenciado a morte violenta de vários jovens em Sergipe. Acidentes de trânsito e principalmente homicídios destacam-se nas estatísticas. Estes números lamentáveis fazem lembrar um estudo apresentado pelo IBGE em 2009, relativo aos indicadores socioedemográficos e de saúde no Brasil.
Os números da pesquisa limitam-se até o ano de 2005. Em nível nacional, o estudo também revela dados positivos, como o aumento da esperança de vida no Brasil. Em 1980, a esperança de vida para homens e mulheres era, respectivamente, de 59,6 e 65,7 anos. Já em 2005, era de 68,4 anos para os homens e 75,9 anos para as mulheres. Veja que o aumento foi proporcionalmente maior entre as mulheres. Esta diferença pode também ser explicada em razão das mortes violentas serem mais frequentes entre os homens, sobretudo os jovens, que entre as mulheres.
Entretanto, o estudo informa que a esperança de vida, mesmo tendo aumentado, poderia ser ainda maior. Se de um lado o histórico problema nacional de mortalidade infantil está sendo reduzido, de outro, a quantidade de mortes acometidas entre jovens e jovens-adultos (15 a 39 anos) cresceu vertiginosamente. Ou seja: muitos brasileiros estão escapando da morte infantil, mas não da violência futura.
O estudo do IBGE realça o aumento da criminalidade como fator preponderante para as mortes entre os jovens. A pesquisa aponta um crescimento relevante desta relação a partir de 1980. Dentre as causas para este cenário: má condição de vida, ausência de políticas públicas sociais, desemprego, aumento das redes de tráfico de drogas, a ineficácia da polícia, a impunidade, a fragmentação das relações familiares, entre outros.
Neste quadro crítico, os jovens pobres são os mais afetados. Eles seriam as maiores vítimas da violência, mas também os seus maiores agentes. Considerando a faixa etária compreendida entre 15 a 29 anos, o homicídio representa a principal causa de morte violenta deste grupo.
Em Sergipe houve um aumento na proporção de homicídios no total de mortes por causas violentas entre 2000 e 2005. Em ordem crescente (do Estado menos violento para o mais violento), o Estado de Sergipe figura no 19º lugar do país e no 7º do Nordeste, ficando atrás apenas de Alagoas e Pernambuco. Os melhores números nordestinos são do Rio Grande do Norte e do Piauí.
Já considerando as taxas de mortalidade em jovens do sexo masculino de 15 a 29 anos de idade, em ordem crescente de 2000/2005, por homicídios, Sergipe figura como o 14º do país e o 7º do Nordeste. Alagoas e Pernambuco possuem as piores taxas, e o Piauí, seguido do Rio Grande do Norte, as melhores (ou menos piores) no Nordeste.
Com relação às taxas de mortalidade por homicídios por armas de fogo em jovens do sexo masculino de 15 a 29 anos, em ordem crescente entre 2000/2005, Sergipe apresentou uma taxa de aproximadamente 60 mortes por armas de fogo a cada 100.000 jovens. Este dado coloca o Estado como o 17º pior do país. A menor relação do país foi de Roraima e a do nordeste do Piauí. Com os piores números do Brasil está Pernambuco.
Estes dados mostram que a partir de 1980 os jovens brasileiros do sexo masculino estão cada vez mais suscetíveis à morte por homicídio. Isto evidencia a necessidade de mais políticas públicas voltadas a esta faixa etária considerada de risco, submetida a uma inquestionável banalização da violência. Em Sergipe, como vimos, os números compreendidos até 2005 são alarmantes. Embora não tenhamos as informações até 2009, a percepção que se tem a partir dos dados apresentados na mídia diariamente é que o cenário continua difícil.
O fato é que os jovens estão com muito menos limites. Grande parte das famílias não impõe limites adequados; as escolas não impõem os limites devidos; o Estado não consegue impor limites. Talvez este seja um dos motivos para a morte precoce de cidadãos de todas as classes sociais, vítimas de um quadro de desagregação de valores morais, reflexo de uma cultura mais direcionada ao consumo desregrado que à vida em paz.
Fred Amado é Coordenador do Programa UFS Ambiental. Mestre em desenvolvimento e meio ambiente (UFS). Especialista em gestão pública (UFS). Especialista em direito constitucional processual (UFS). Advogado e técnico em educação (UFS).
Fonte: Universo Politico
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