Por Diógenes Brayner
A reação do governador Marcelo Déda (PT) sobre o crescente número de roubos, assaltos, sequestros relâmpagos e homicídio em todo o Estado, não deve ter deixado a cúpula da Secretaria de Segurança Pública com cara de paisagem. Déda, digamos assim, levantou o cartão amarelo para o setor que deve proteger a sociedade. O governador tem razão quando cobra uma resposta de membros das polícias Militar e Civil. Tanto pelos investimentos para condições de trabalho, quanto pelo salário pago. O segundo maior do Brasil. O tamanho da irritação de Marcelo Déda pode ser mensurada pela frase que invadiu ontem as redes sociais no Estado: “só me falta colocar uma 45 no meu quarto e pegar uma viatura e sair em busca de bandido. Não posso fazer isso porque não sei atirar e nem sei dirigir, agora pagar o segundo maior salario do País, isso nós fazemos”.
Pela primeira vez Marcelo Déda falou com essa contundência, ao se referir à Segurança no Estado. Suas declaração, que reconhecem a fragilidade da Polícia diante dos bandidos, merece uma reflexão. Em setembro de 1996, no último programa de TV, quando Déda estava em acirrada campanha pelo Governo do Estado, na disputa contra o então governador João Alves Filho (DEM), ele garantiu: “no dia 02 de janeiro [de 2007], a minha primeira providência como governador do Estado, é colocar a polícia nas ruas para dar segurança aos cidadãos”. À época o secretário era o advogado Flamarion D´Avila. O superintendente da Polícia Civil era o delegado João Eloy. Reconheça-se: as circunstâncias da Pasta não eram as mesmas, mas havia também um excesso da ação dos marginais e a falta de combatividade. A lembrança não tem nenhum objetivo de caça às bruxas, mas serve para demonstrar que sem renovação não há solução.
Certo dia escrevi que havia necessidade de uma reformulação no estilo de trabalho que a Segurança executa. Seria preciso mudanças para avançar. A resposta veio imediata ao estilo de ataque pessoal, via uso das redes sociais, em defesa do sistema de segurança que está posto em funcionamento. Há de se ver alguns senões: um secretário de Pasta difícil como a Segurança deve ser renovado a cada quatro anos, porque faz um trabalho estressante. Pelo tempo torna-se rotineiro e a rotina, se não desgasta, acomoda. O setor de investigação avançou, com a Polícia Técnica e de Inteligência. Tudo bem. Mas a prática de captura, de abordagem e prevenção continua como sempre. É soldado ou agente correndo atrás de ladrão. Se antes os marginais temiam a Polícia, hoje a enfrenta na mesma proporção e com ousadia. Usando até armas mais sofisticadas...
Há de se convir, também, que os bandidos avançaram no formato de agir. Diria até que são mais organizados e planejam melhor os seus atos criminosos. Nisso levam vantagem, porque têm a seu favor o fator surpresa. Hoje, parte dos bandidos anda bem vestida, tem melhor aparência e aplica golpes que desequilibram a Polícia. Parecem mais inteligentes, mas não são. Apenas têm mais tempo para planejar e realizar crimes contra a sociedade, que não tem a proteção permanente do setor de segurança. O tráfico de drogas transformou segmentos da classe média em aliados e o combate é difícil, porque não se avançou no formato investigativo. Além disso, na estrutura de segurança, existem grupos dissidentes, que adoram ver o “circo pegar fogo”. Ontem à noite, um delegado disse-me que na Secretaria de Segurança, “se trabalha de forma empírica, e na cúpula cada um põe o nariz para cima e pronto”. Além disso, tem policiais que trabalham melhor para empresas particulares, que para o Estado, mesmo recebendo maior salário.
A solução, claro, será do governador, porque recai sobre ele a responsabilidade política de oferecer segurança e tranquilidade à população, principalmente do interior, onde bandidos agem com desenvoltura. A impressão é que não basta modernizar apenas a estrutura, mas o seu comando, para que avance além do que trama os bandidos. É preciso implantar uma política nova de Segurança, dentro de um projeto avançado de combate ao crime.
Só se fará isso com unidade, confiança e fim dos grupos dissidentes dentro da Pasta.
Fonte: Coluna Plenário (Faxaju)
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