Existe uma construção no imaginário de alguns policiais que pretende
simplesmente acusar as pessoas como culpadas por más práticas nas
organizações policiais. Para eles, “a instituição é perfeita, as pessoas
é que a distorcem”. Trata-se de um argumento curioso, que possui
consequências ainda mais inusitadas.
Se o problema está nas pessoas, não há motivo para diferirmos, por
exemplo, uma ditadura de uma democracia, pois qualquer um dos regimes
pode ser igualmente bom, se temos pessoas boas. Como meus colegas
defendem que o Brasil, por sua cultura, é um exemplo de país com pessoas
“más”, parece que a Suécia, ou o Japão, teria sucesso ao implementar
uma Ditadura.
Este raciocínio, que pretende conservar estruturas institucionais
existentes, terceirizando o problema para “as pessoas”, acaba mesmo por
extinguir a necessidade de quaisquer instituições. Ora, se todo o nosso
problema é moral (poucas pessoas “boas” e muitas pessoas “más”), não há
necessidade de instituição alguma. É só aguardar até que tenhamos mais
“bons” do que “maus” no mundo para que tudo dê certo.
Poucos teriam esta ingenuidade quase infantil, embora defendam o argumento apontado no início deste texto.
É preciso observar que instituições são feitas para resolver
problemas, devendo se ajustar sempre que os problemas mudam ou se tornam
mais complexos. Se deixa de resolver os problemas, deixa de fazer
sentido enquanto instituição, na medida da quantidade de problemas que
deixa de sanar.
É óbvio que a cultura local deve ser considerada nos mecanismos
institucionais de resolução de problemas. E aí deve-se atentar para a
formação dos profissionais e para a estrutura correcional, que também
são problemas que se referem ao modelo de instituição adequado. Ou a
formação policial não serve para modificar, em certo grau, os
indivíduos? Orientá-los para determinados tipos de prática, em
detrimento de outras? Estamos condenados à “educação que vem de berço”?
Existem, sim, elementos institucionais que, independentemente de quem
os esteja operando, são ineficientes, ineficazes. Alguns gargalos são
insuperáveis pela maior boa vontade que exista, algumas perversões
permanecerão existindo enquanto determinada arquitetura institucional
prevalecer.
Defender a conservação de uma instituição dizendo que o problema são
as pessoas é infantil e até ridículo. Observemos os resultados: sua
instituição resolve os problemas que se dispõe a resolver? Se sim, ela é
perfeita. Se não, precisa enfrentar o desafio da mudança.
Autor: Danillo Ferreira- Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com
Fonte: Abordagem Policial
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