domingo, 11 de janeiro de 2015

Violência: quando os policiais viram vítimas

O aumento da violência é um mal que assusta em todo o país. Constantemente são divulgados dados, estatísticas, relatórios e a cada nova publicação as informações são mais alarmantes. Aumento no número de homicídios, roubos, latrocínios, entre outros crimes. Cidades outrora pacatas estão tendo que conviver com o terror instalado pela marginalidade. A situação por vezes parece irreversível e a sensação de insegurança é cada vez maior entre os cidadãos.

E quando os policiais se tornam vítimas dessa violência, o que dizer? Para o cidadão dito “comum” a primeira mensagem é: “Se nem os policiais estão seguros, imagine eu”. Em 2014 o número de policiais vítimas de homicídio aumentou significativamente em vários estados. E a violência contra policiais, ao contrário do que pode parecer, não se resume ao eixo Rio-São Paulo, embora em números absolutos possa ser maior nestes estados. Em São Paulo, somente até 28 de julho de 2014 já se contabilizava um aumento de mais de 62,2% no número de mortes de PMs em relação ao mesmo período de 2013, segundo dados da própria PMESP. No Rio de Janeiro, segundo o Sinpol/RJ, 111 PMs e 3 policiais civis foram mortos em 2014. Nos dois estados policiais militares realizaram manifestações em virtude da morte dos colegas de farda, a grande maioria mortos em seu horário de folga ou mesmo depois de aposentados.

A violência contra os policiais tem se espalhado e atingido também outros estados. Um exemplo é o Maranhão, onde segundo a Associação dos Policiais Militares (ASPOM/MA) o número de PMs mortos somente em 2014 chegou a 15. Em Belém o Diário do Pará publicou no último dia 16 de dezembro que somente até aquela data 19 PMs já haviam sido mortos no estado e outros 14 foram alvejados. A Bahia é outro estado que também se destaca pelo grande número de policiais mortos.

Até mesmo em Sergipe, antes conhecido pela tranquilidade local, também contabilizamos nossas vítimas, a última delas o Sargento Manoel Messias Filho, 63 anos, policial da reserva remunerada, executado friamente por bandidos apenas por ter sido identificado como militar, fato ocorrido durante um assalto a uma pequena chácara no município de São Cristóvão, na Grande Aracaju. Embora não haja estatística oficial sobre estes casos no estado, pelo menos seis policiais militares ativos e inativos foram vítimas de homicídio em Sergipe nos últimos três anos.

O mais lamentável em tudo isso é o grau de importância que é dado à morte de um policial, seja pela imprensa, pelas autoridades e até pela população. De maneira geral as notícias são publicadas sem grande destaque, nenhum representante dos Direitos Humanos, da Anistia Internacional ou de qualquer desses órgãos que logo se manifestam quando um bandido é abatido em confronto com policiais aparece no velório ou faz uma visita à família da vítima. Parece que ninguém mesmo se comove com a morte de um PM, à exceção dos seus familiares, amigos e colegas de profissão. Para os outros a morte de um policial parece ser tida como “normal”, afinal, o risco é inerente à profissão, como escreveu certa vez um promotor público.

Há alguns anos, ao participar de um encontro nacional de praças policiais e bombeiros militares em Belo Horizonte/MG, ouvi uma frase do então Secretário Nacional de Segurança Pública, Ricardo Ballestreri, a qual nunca esqueci. Dizia ele: “Precisamos cuidar dos nossos cuidadores”, dirigindo-se aos civis que ali se encontravam e referindo-se a nós policiais e bombeiros. Infelizmente a realidade não é essa e nem mesmo o Estado cuida de maneira adequada daqueles que o representam no papel de manter a ordem e a tranquilidade pública. Em muitos casos por esse Brasil afora, policiais vão às ruas sem dispor sequer de equipamentos básicos de segurança pessoal, a exemplo de coletes balísticos. Quando disponíveis, esses materiais que deveriam ser de uso pessoal, precisam ser compartilhados entre vários colegas, que vão passando de um para o outro, turno após turno, sem sequer haver a higienização desses materiais.

Não bastassem estes e outros problemas, ainda temos que enfrentar no Congresso Nacional diversos projetos que dificultam ainda mais a ação policial e que põem em risco nossa população e os membros de nossas forças de segurança. Exemplos disso são o Projeto de Lei (PL) 4471/2012, que acaba com o auto de resistência à prisão, e o PL 3722/2012, que flexibiliza o Estatuto do Desarmamento possibilitando que todos possam ter acesso a armas, num total de 09 (nove) armas por cidadão, inclusive, pasmem, processados e condenados. Ou seja, enquanto a população clama por segurança, há aqueles que, movidos por algum tipo de interesse, vão na contramão do clamor popular e tentam aprovar medidas que só tendem a potencializar o aumento da violência e da criminalidade. Esperamos que nossos congressistas também aprovem o Projeto de Lei 8176/2014, de autoria do deputado Jair Bolsonaro, que torna hediondos os crimes cometidos contra a vida dos profissionais de segurança pública e seus familiares.

Aos policiais militares, por força das leis e regulamentos que os regem, mal é permitido falar, opinar, se utilizar da tão propalada “liberdade de expressão”. Mesmo assim, falamos, muitas vezes até gritamos, contudo nem sempre somos ouvidos. São pais e mães de família que estão morrendo, pessoas que juraram defender a sociedade mesmo com o risco da própria vida, e que assim fizeram. Aqueles que não tombaram em combate, tombaram simplesmente por terem escolhido essa profissão, que consegue ser ao mesmo tempo tão nobre e tão ingrata. O sangue destes companheiros clama por justiça.

É preciso que nossas autoridades ajam urgentemente em defesa de nossos policiais e de nossa sociedade, e que esta mesma sociedade se conscientize sobre o quanto somos importantes e essenciais, e cobre da classe política soluções que nos permitam construir num futuro próximo um ambiente onde possamos viver em paz.

A todos os policiais e bombeiros militares do Brasil que perderam sua vida em missão ou não, nosso respeito e nossas honras!

Por Anderson Araújo*

* 1º Sargento da PMSE, Bacharel em Administração, Presidente da Associação dos Praças PM/BM de Sergipe (ASPRA/SE) e membro do Conselho Fiscal da Associação Nacional de Praças (ANASPRA).

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