quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

“A situação tornou-se insustentável. Há inúmeros relatos de insubordinação e desrespeito denunciados pelos delegados”

Presidente da Adepol expõe crise no relacionamento delegados x agentes de polícia

Presidente da Associação de Delegados de Polícia Civil do Estado de Sergipe (Adepol/SE), o delegado de carreira Paulo Márcio ecoa um sentimento preocupante a angustiar os delegados de polícia de Sergipe: a quebra da hierarquia nas Delegacias de Polícia. “Na Polícia Civil de Sergipe, a situação tornou-se insustentável. Há inúmeros relatos de insubordinação e desrespeito denunciados pelos delegados, seja na capital ou no interior”, lamenta o delegado. A situação é mais grave porque, segundo Paulo Márcio, a cúpula anterior da Secretaria de Estado da Segurança Pública alimentou a prática, crescendo a crise no relacionamento delegados x agentes de polícia dentro das delegacias sergipanas. “(A cúpula da SSP) se omitiu diante das reivindicações da Adepol. Temos como resultado dezenas de delegados desestimulados e pouco esperançosos. Mas acredito que isso vai mudar”, aposta Paulo Márcio. A entrevista:

Como avalia esta reunião que o secretário de Segurança Pública, Mendonça Prado, teve com os delegados?

Acredito que foi bastante positivo. Este tipo de aproximação é importante na medida em que permite um diálogo franco e direto, sem intermediários. É óbvio que tendo sido o primeiro teve mais o formato de uma apresentação do que propriamente uma reunião de trabalho. A SSP está elaborando um planejamento, o que também vem sendo feito pelas Polícias Civil e Militar. Dentro em breve a categoria se reunirá novamente com o secretario e o delegado geral para conhecer os detalhes e oferecer sua contribuição ao novo planejamento. Acredito que este é o caminho a ser seguido e a Adepol fará aquilo que for necessário para estreitar os laços com a SSP.

Como será, então, a relação Adepol x Mendonça Prado?

De nossa parte, a melhor possível, com lealdade, transparência e permanente diálogo. Aliás, isso vem sendo feito desde o seu anúncio como secretário, por iniciativa de ambas as partes, como decorrência da boa relação que sempre existiu entre a Adepol e Mendonça Prado como deputado federal. A tendência é que se aperfeiçoe.

E os problemas das Delegacias de Polícia? Estão na pauta de discussão com o novo secretário?

Certamente. Temos um modelo de delegacia metropolitana, que é a 3ª DM, no bairro Santos Dumont. A ideia é que prédios como este possam ser construídos em outros bairros e no interior do Estado. Ao ser empossado na Presidência da Adepol, o delegado Paulo Márcio fez um discurso contundente assistido por, entre outras autoridades o próprio secretário Mendonça Prado, sobre a importância da hierarquia no sucesso de qualquer projeto. É uma grita dos delegados? O que está acontecendo?

Nós estamos vivenciando uma crise de autoridade em todo o país. Isso é reflexo dos desmandos administrativos, da lassidão moral e da complacência de certas autoridades, que não têm pulso nem comando sobre seus subordinados, levando o país ao caos. Numa instituição policial, então, onde a hierarquia e a disciplina são vigas mestras, a anarquia associada à falta de comando tornam impossível a implementação de qualquer projeto. Na Polícia Civil de Sergipe, a situação tornou-se insustentável. Há inúmeros relatos de insubordinação e desrespeito denunciados pelos delegados, seja na capital ou no interior. Há pouco mais de um ano um grupo de policiais chegou a interditar o DAGV, impedindo o acesso das delegadas e demais servidores. Não se tem notícia da adoção de nenhuma medida punitiva. Além disso, a Corregedoria permitiu que dezenas de processos administrativos disciplinares e sindicâncias fossem arquivados por prescrição, enquanto outros se arrastam há cinco, seis e até oito anos. Vão todos para a vala da prescrição. Lamentavelmente.

Esta quebra de hierarquia pode também explicar os números alarmantes da criminalidade em Sergipe?

Essa explosão da criminalidade se deve a questões estruturais e conjunturais, mas é óbvio que a indisciplina e a hierarquia também contribuem para isso. Quero ilustrar isso com um exemplo: um delegado é lotado em uma cidade do interior sem as mínimas condições de trabalho e com poucos servidores. Se ele resolve cobrar mais dos subordinados, exigindo pontualidade e assiduidade, de acordo com as atribuições legais, estes procuram um padrinho político ou vão direto para a SSP pedir a remoção para outra cidade. E quase sempre conseguem. Na 5ª Delegacia Metropolitana, unidade onde eu trabalhava, um policial foi lotado para trabalhar no plantão. Trabalhou apenas uma noite e decidiu não retornar, por conta própria, alegando que o local não tinha estrutura (o que não deixa de ser verdade). Comuniquei o caso ao coordenador, mas nada foi feito. Como se enfrentar a criminalidade de forma eficiente se um Delegado de Polícia não pode cobrar responsabilidade dos seus subordinados?

Como a gestão passada da SSP lidou com isso? 

Da pior forma possível, alimentando essa prática e se omitindo diante das reivindicações da Adepol. Temos como resultado dezenas de delegados desestimulados e pouco esperançosos. Mas acredito que isso vai mudar. Resgatar a autoridade do delegado de polícia é algo imprescindível para o sucesso de qualquer política de segurança pública. Particularmente, deposito grandes expectativas nessa nova gestão. O diálogo com o secretário Mendonça Prado e o Delegado Geral Everton Santos tem sido marcado pela transparência, compreensão e lealdade.

Além de buscar solução para este problema, quais as prioridades destes primeiros meses de gestão na Adepol?

Temos uma pauta longa de reivindicações, mas buscamos nesse primeiro momento uma redistribuição do efetivo, a observância dos direitos e prerrogativas dos delegados, principalmente nos casos de remoção, e a retirada dos presos das delegacias. Depois trataremos de outras questões, como a implementação do subsídio e da promoção automática, conquistas obtidas o ano passado em negociação com o governador Jackson Barreto e sua equipe.

Joedson Telles

Fonte: Universo Político

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