sexta-feira, 15 de maio de 2015

Primeiro a vaidade de depois a sociedade, se der certo


A Federação Nacional dos Policiais Federais – FENAPEF analisa com preocupação recentes expedientes que têm sido emitidos por corregedorias de alguns estados, nos quais se orienta o uso de pronomes de tratamento quando houver encaminhamento de documentos oficiais aos ocupantes do cargo de delegado de Polícia Federal. Os memorandos determinam que os servidores utilizem termos como “Vossa Excelência”, “a sua Excelência” e “Excelentíssimo”, além de finalizar com a expressão “Respeitosamente” ao invés de “Atenciosamente”.

Chama atenção o fato de que recentes denúncias acerca do possível uso político da Operação Lava Jato não demandaram medidas tão enérgicas por parte das corregedorias, quanto o simples uso de um pronome de tratamento que não traz qualquer benefício no combate à criminalidade. Porém, massageia o ego de profissionais vaidosos, que apenas demonstram não somente uma mediocridade profissional, na medida em que perdem tempo com assuntos insignificantes ao invés de combater a criminalidade, anseio de toda a sociedade e atividade que justifica seus altos salários, mas também uma mediocridade pessoal, quando colocam seus egos acima da razão.

Importante lembrar que órgãos como o Ministério Público, por exemplo, não sofrem qualquer tipo de cobrança no tocante à utilização de pronomes de tratamento quando se dirigem aos delegados da Polícia Federal, mesmo após o advento da Lei nº 12.830/2013. Seria isso uma espécie de temor reverencial?

Sabe-se que o Manual de Redação da Presidência da República é uma diretriz oficial que norteia todos os documentos do Poder Executivo. Neste, o tratamento que deve ser dirigido ao delegado de polícia é o de “Vossa Senhoria” e “Atenciosamente”. O uso do “Excelentíssimo” deve ocorrer apenas quando o documento for dirigido a Chefe de Poder. Haveria algum delegado Chefe de Poder para justificar o uso de tal termo?

Além isso, nos autos da ADI 5073, proposta pela Cobrapol, já consta parecer da PGR confirmando a inconstitucionalidade da exigência do emprego de “Vossa Excelência” para delegado. O fato é que não apenas os projetos legislativos mas também os atos administrativos dos delegados, mostram cada vez menos preocupação com a segurança pública e a sociedade e um interesse sempre maior pela busca de poder associada à vaidade e ao ego cada vez maiores.

Entendemos que é chegada a hora de um basta. A sociedade brasileira não merece tamanho descaso, a existência de servidores que se colocam à frente do povo e o deixa de lado, valendo-se do cargo ou mesmo de funções para saciar sua sede de poder. Alertamos ainda que tal atitude emanada das corregedorias demonstram um caso claro de assédio moral coletivo, que não deixará de ter a devida busca da prestação jurisdicional do Estado, bem como a devida comunicação ao Ministério Público Federal para as eventuais providências cabíveis.

Lamentamos, por fim, que assuntos dessa natureza, em pleno século XXI, ainda careçam de discussão, ao observarmos os pífios índices de solução de crimes que apenas refletem a precariedade do atual sistema de segurança pública do Brasil, que ainda mantém privilégios para alguns que buscam garantir o status quo ao invés de agir com grandeza e lutar para que as mudanças necessárias, desprovidas de vaidades efetivamente ocorram.

Fonte: FENAPEF

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