terça-feira, 20 de maio de 2014

Frustração com a Copa se reflete na decoração das ruas do Rio

Na Rua Dias da Cruz, no Méier, desenho mostra uma bola no prato de comida de uma criança. Márcia Foletto/O Globo

Os protestos contra a realização da Copa do Mundo no Brasil começam a ganhar contornos nas ruas do Rio, ainda de forma tímida, mas com desejo de crescer. Na principal via do Méier, a Dias da Cruz, desenhos criticando o evento ocupam parte do asfalto. A decoração anti-Copa foi feita neste domingo, segundo moradores, quando a rua fica fechada para lazer. Nas redes sociais, uma página convoca o carioca a decorar a cidade com palavras de protesto, mas a atuação dos críticos vai além do mundo virtual. Na Rua Honório de Barros, no Flamengo, por exemplo, o grupo ofereceu desenhos com críticas ao evento, mas eles ainda estão engavetados.

Porteiro chefe do prédio de número 19 da Honório de Barros, Daniel da Silva Macedo conta que os desenhos foram levados por um grupo de “artistas” e serão submetidos à votação dos moradores. A rua tradicionalmente é enfeitada em tempos de Copa desde 1978.

— Por mim, não colocamos nenhum protesto. O nosso negócio aqui não é criticar, mas sim brincar durante o torneio — disse.

Na rua do Flamengo, o único sinal de protesto é uma bandeira do Brasil, estendida no primeiro andar do prédio de número 25, com a frase “Copa para quem?”. Segundo o porteiro, a família que mora no apartamento não estava em casa na manhã desta segunda-feira

— Um adolescente que mora no local colocou a bandeira — contou o porteiro, que não se identificou.

No Méier, o protesto é mais visível. São desenhos grandes, que ocupam a extensão da via, entre as ruas Oliveira e Manoel Barbosa. Num deles, a bandeira do Brasil ganha novos detalhes. A frase “Ordem e Progresso”, por exemplo, foi substituída pela frase “Tá tudo Errado”, com o "E" escrito ao contrário. Ao redor, o símbolo nacional ganhou frases como “vândalo é o estado”, “menos armas”, “mais escolas” e “desmilitarização”, entre outras. Mais à frente, um menino segura um prato de comida com uma bola dentro. E, do outro lado da rua, um corpo desenhado, vítima de um tiro, com frases de protesto ao redor. Há também desenhos em favor dos rodoviários, como uma faixa pintada no chão pedindo o fim da dupla função da categoria.

— Eles pintaram tudo isso no domingo, aproveitando que a rua estava interditada — contou o fiscal de uma linha de ônibus, que não se identificou. — Para mim, tanto faz. Desde 1982, quando perdemos vergonhosamente, não torço mais pelo futebol brasileiro.

Bem próximo aos desenhos de protesto, uma pequena barraca, além de doces e balas, vende camisas, cornetas e adereços para o torcedor. Mas, segundo a funcionária Renata Alves, de 30 anos, a procura ainda é pequena:

— Semana que vem, as vendas devem melhorar. Tanto que o patrão reduz a quantidade de balas para colocar mais produtos com as cores do Brasil.

Voltando ao Flamengo, a Rua Correia Dutra já começa a ser enfeitada. Lá, a tradição também vem desde 1978, como a vizinha Honório de Barros, mas os organizadores adiantam que não haverá frases de protesto. Michele de Souza, de 32 anos, faz parte da comissão e disse que a única citação política da decoração será uma bandeira com a frase “Paz”. Ela percebe, no entanto, uma adesão menor dos moradores nesta Copa.

— Nas mundiais passados, a essa altura, a gente já tinha conseguido reunir todo o dinheiro para a decoração. Este ano, estamos tirando do bolso. E poucos são os voluntários que apareceram para ajudar a decorar — contou.

Fonte: O Globo

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