quinta-feira, 22 de maio de 2014

Demissão injusta de Cabo Sabino da Polícia Militar do Ceará completa hoje (22/05) 1 ano

Cabo Sabino. Fonte ACSCE

Há exatamente um ano, o principal noticiário da televisão cearense trazia a seguinte manchete: “PMs que participaram de movimento grevista no CE de 2011-2012 são demitidos”. Naquele dia, a história do Cb. Sabino na Polícia Militar do Ceará (PM/CE) foi interrompida. A exoneração, publicada no Boletim do Comando Geral da PM/CE e no Diário Oficial do Estado, foi recebida pela categoria militar como uma retaliação aos líderes do movimento paredista de 2011, quando a PM/CE parou suas atividades buscando melhores condições de trabalho.

Na ocasião da paralisação, Sabino ocupava o cargo de presidente da Associação dos Cabos e Soldados Militares do Ceará (ACSMCE) e ao lado de Cap. Wagner na época Deputado Estadual , e presidente da Associação dos profissionais de segurança pública do estado do Ceará (APROSPEC), P. Queiroz, da Associação de Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do Ceará (ASPRAMECE) e de Nina Carvalho, da Associação das Esposas dos Policiais e Bombeiros Militares do Ceará (ASSEPEC), representou a categoria militar frente ao governo Cid Gomes.

Conforme o Boletim do Comando Geral n° 094, de 22 de maio de 2013, Sabino foi demitido sob a alegativa de “participação ativa na reunião/assembleia (no dia três de janeiro de 2013) e inequívoca demonstração de liderança no movimento, caracterizando tais atos, como contrários aos valores militares”. Com a mesma acusação, P. Queiroz também foi desligado da corporação. Entretanto, a denúncia se refere a uma reunião de caráter informativo para a exposição dos itens cumpridos e não-cumpridos do Termo de Acordo assinado para por fim à paralisação do ano anterior. No total, foram 10 policiais “expulsos” com suspeita de arquitetar uma nova greve da PM, sendo que a reunião tinha sido somente de caráter informativo.

19 anos, 11 meses e 17 dias foi o tempo prestado pelo ex-militar na 3° Cia do 6° BPM (Maracanaú), extinto BPTran e antigas 4°/5° (Salinas) e 5°/5° (Centro), com destaque na ACSMCE, desde 2005. Após 12 meses da exoneração de Flávio Sabino, o recurso de reintegração à Polícia Militar ainda se arrasta na justiça brasileira. Apesar disso, até o mês de abril de 2014, o ex-militar permaneceu na presidência da Associação dos Cabos e Soldados Militares do Ceará. Durante sua gestão, Sabino continuou representando a categoria diante da entidade, buscando melhores condições de trabalho para os policiais militares.

Sabino foi um dos 44 policiais militares e 21 bombeiros investigados pela Controladoria dos Órgãos de Disciplina da Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Estado do Ceará. “Demitem porque querem. É a política da opressão para causar um sentimento de medo”, lamentou Sabino em pronunciamento aos associados da ACSMCE.

Movimento Paredista

A “greve da Polícia Militar” foi legitimada pela indignação da tropa, cansada da jornada de serviço análoga ao trabalho escravo e outros abusos. Para chamar a atenção dos governantes, aconteceu o Sábado Vermelho que reuniu milhares de militares em passeata pelas ruas do Centro de Fortaleza. O movimento rumou para uma assembleia geral da categoria, findando com a aprovação por unanimidade da paralisação, decretando a greve na Polícia Militar.

O esquema logístico da ação foi encabeçado por Flávio Sabino, representando a ACSMCE com apoio de outras entidades. Toda a estrutura da entidade se colocou em favor da categoria militar. O acampamento foi instalado na 6° Cia do 5° BP pelo Cap.Wagner e outros policiais militares, durando cinco dias e seis noites.

Enquanto isso, a cidade de Fortaleza cessou diversas atividades temendo a ação de ladrões, traficantes e saqueadores “profissionais” de ocasião.

As centrais sindicais e outras entidades do Brasil enviaram apoio à greve, aos policias e familiares. As igrejas e os empresários de Fortaleza uniram-se à causa para pressionar o Estado. Dom Edmilson da Cruz, embora com mais de 80 anos, também participou das negociações. Flávio Sabino relata que em um determinado momento da paralisação, Dom Edmilson perguntou “o que aflige teu coração, homem?” e Sabino respondeu “tenho medo da categoria não aceitar um acordo”. “Se a tropa não lhe ouvir, ela vai ter que me ouvir”, exclamou o líder religioso.

Foi Flávio Sabino que apresentou aos policiais militares cearenses o que o governo do Estado estava propondo. A tropa aceitou as condições e encerrou a greve no dia três de janeiro de 2012. Um dos maiores movimentos militares da história findou sem nenhum tiro disparado e sem nenhum ferido.

Uma das maiores vitórias do movimento, segundo a Associação dos Cabos e Soldados Militares do Ceará, foi a jornada de trabalho de 40 horas semanais. Infelizmente, apenas os militares da capital e Região Metropolitana de Fortaleza gozam desta conquista. Os profissionais da Segurança Pública dos destacamentos no interior do Ceará ainda cumprem, por vezes, mais de 90 horas por semana, conforme informações da ACSMCE.

Redação ACSMCE, Marcus Castro.
Edição Roberto Barros

Fonte: Associação de Cabos e Soldados do Ceará

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