sexta-feira, 27 de maio de 2011

Reajuste agrava crise na polícia sergipana

A guerra interna da Polícia Civil, que coloca agentes e escrivães contra os delegados da instituição e antes estava restrita aos bastidores, explodiu ontem na Assembleia Legislativa. Mesmo não admitido pelos líderes de ambos os lados, o clima de confronto ficou bastante claro após a aprovação, pelos deputados estaduais, do aumento salarial de 5% para os delegados, que vão ganhar esse índice em acréscimo ao reajuste linear de 5,7% concedido pelo Governo do Estado e igualmente aprovado na Assembleia.

Esta situação foi antecipada na edição de ontem do JORNAL DO DIA, ao noticiar a reação do Sindicato dos Policiais Civis de Sergipe (Sinpol) ao acordo firmado entre o governo e a Associação dos Delegados de Polícia de Sergipe (Adepol), fechado por meio do líder do governo na casa, deputado Francisco Gualberto (PT), e que prevê a concessão do reajuste de 5% retroativo ao reajuste linear de 2008. O Sinpol convocou seus filiados para acompanhar a sessão da Assembleia.

A convocação foi atendida e os policiais civis protestaram no lado de fora da casa, exigindo que o mesmo aumento dado aos delegados fosse dado aos agentes e escrivães. Eles ganharam o apoio das Associações Militares Unidas, que representam oficiais e praças da Polícia Militar. As duas categorias ainda farão assembleias em separado, mas já adotaram uma estratégia única: retomar as greves brancas e não cumprir os serviços extraordinários, como aconteceu durante os movimentos Operação Padrão (da PC, em 2007) e Tolerância Zero (da PM, em 2009).

Na prática, esta estratégia pode comprometer a segurança de grandes eventos públicos programados para o São João, a exemplo do Forró Caju, do Arraiá do Povo e da Festa do caminhoneiro, em Itabaiana. Este objetivo foi explicitado pelos líderes do Sinpol e das Unidas, como forma de pressionar o governo a conceder-lhes o mesmo reajuste dado aos delegados. Se esse projeto for aprovado, não vai ter festa em Itabaiana. Forró Caju? Vá contratar a Nordeste Segurança! Acho que alguns coronéis e delegados, donos de empresas de segurança, vão gostar disso! E que a população saiba: o culpado disso é o governador Marcelo Déda Chagas, disparou o presidente do Sinpol, Antônio Moraes, em tom bastante irritado.

Moraes bradou ainda que os parlamentares praticaram estelionato contra os servidores públicos e os fizeram de palhaços. É inadmissível o que eles fizeram. Já que quer fazer um aumento, bote-o num projeto específico, para ele ser passível de análise. Não! Ele veio escondido no meio do reajuste. Não sei por que o governador Marcelo Déda está sendo motivado a privilegiar 100 pessoas em detrimento de 7 mil. O Governo não pode tratar a categoria de forma fracionada e deve sentar com o sindicato, que é representante de toda a categoria, e negociar as questões salariais e de condições de trabalho. Não somos contra o aumento para os delegados, mas os benefícios devem ser para todos, de forma igualitária, ressalta Moraes.

Os policiais militares fazem coro com a irritação dos colegas e também estão dispostos a retomar os protestos contra o governo. Nós não vamos mais parar. Podem mandar prender ou expulsar, que vamos pagar o preço, mas vamos fazer o que devia ser feito há muito tempo. Não vamos mais aguentar toda essa humilhação. O governo do PT conseguiu rachar a segurança pública no meio e agora quer quebrar o resto ao dar esse tratamento diferenciado. Deu aos delegados? Perfeito, mas que dê pra gente também o mesmo tratamento, avisa o gestor da Caixa Beneficente da PM, sargento Jorge Vieira.
 
Gabriel Damásio
 
Fonte: Jornal do Dia

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