sábado, 18 de julho de 2015

O assalto que mudou minha visão sobre a desmilitarização da Polícia

Era por volta das 11h25 da manhã de segunda-feira, dia 13, eu estava guiando meu carro em um bairro da zona norte de São Paulo, mais precisamente em Cachoeirinha. Levava meus amigos em casa, quando nos veio a ideia de parar para fazer um lanche. Compramos o lanche e voltamos ao carro, para seguir viagem. Até aí tudo normal, estávamos em quatro pessoas. Eu, apenas um turista na cidade, tinha chegado há dois dias antes do incidente de Curitiba, cidade onde moro.

Foi tudo em minutos: após entrarmos no carro, dois homens armados nos abordaram com muita violência, nos mandaram descer. Eu ainda relutei, imaginei que queriam alguma coisa como o celular ou dinheiro, mas na verdade tratava-se de um roubo que mudaria em muito a minha visão sobre a militarização da Polícia.

Em resumo, levaram tudo o que é meu: meu carro, meus documentos, meu celular, meu notebook e também a minha alegria que estava naquele momento em estar com amigos. Na hora da fuga dos marginais, meu braço ficou preso dentro do carro; Insensatos, me arrastaram como um objeto em plena avenida Inajar de Souza e ao me soltar, rolei na pista me ferindo. Vi meu braço sangrando, minhas roupas sujas, me vi assustado. Imediatamente procurei auxílio, ligando pra Polícia Militar pra pedir ajuda; Naturalmente a primeira atitude de qualquer pessoa nessa situação: recorrer ao estado para o socorro.

Pra minha surpresa, passaram-se quase quarenta minutos do assalto e sequer uma viatura havia passado na avenida. Até que eu avistei uma vindo no sentido contrário e, correndo e em desespero, consegui abordá-la e expliquei a situação, que havia sido assaltado, estava machucado, enfim. Demorou pouco mais de 5 minutos para os policiais retornarem ao local do crime, onde, pra minha surpresa, apenas me auxiliarem a ir ao hospital para fazer os curativos. "Vamos te deixar no hospital e aí você pega um ônibus e vai até a delegacia pra fazer um boletim de ocorrências".

Tentando ser cordial, segui as instruções. No hospital, não havia médicos, e os que estavam recusaram-se atender ou me dar pelo menos um gaze para colocar sobre o ferimento no braço. Saí ainda desnorteado junto com meus amigos Wesley, Bruno e Alexandre do posto. Eles me auxiliaram bem mais do que a polícia que havia sido chamada, porém não enviou ninguém para o socorro. E então voltamos a ligar para o 190, quando começou as ignorâncias. Do outro lado da linha, a atendente falava: "Você tem que esperar, e não tem o que fazer". E ainda: "não estou achando o seu nome no sistema, você tem certeza que ligou?".

Eu só queria socorro. Será que era tão difícil entender que eu não morava em São Paulo e precisava de ajuda porque tinha acabado de sofrer um assalto violento e estava machucado? Desisti de aguardar a viatura e fui, como orientado pelos policiais que eu consegui parar, de ônibus até a delegacia.

Quando cheguei lá, não havia ninguém para ser atendido. Imediatamente fui até o balcão e pedi auxílio. O policial ali ostentava em seu peito um grande e brilhante distintivo "POLÍCIA CIVIL". Lá no 72º DP da Vila Penteado, mesmo sem ninguém pra atendimento público, o homem falou "sente-se e aguarde".

E se foram 40 minutos, até que alguém olhasse pra mim e perguntasse qual era meu problema. Alguns policiais passavam e ainda perguntavam para o outro se eu estava detido ou algo no sentido. Na minha profissão de jornalista, aprendi a ser cordial e educado, então permaneci quieto, apenas cumprimentando quem se dirigia a mim.

Quando fui chamado para o boletim de ocorrências, o policial parou várias vezes de escrever, para enviar mensagens no WhatsApp. Oras! Será que responder mensagens instantâneas era mais importante do que agilizar socorro a um cidadão?

Começaram as surpresas. Machucado, fui questionado: "Você não vai fazer um curativo nisso aí?" – respondi que já havia ido ao hospital e ainda conclui: "Será que o senhor pode me dar mais atenção, estou sentido dores e ainda não almocei". Nessa altura do campeonato, já eram umas 14h, estava com muita fome, ainda sujo, com a boca seca e ainda mais desorientado, pois não era a minha cidade e meus familiares estavam todos no Paraná.

O policial apenas me olhou e retrucou: "Aguarde se o senhor quiser, e tenha certeza que as dores vão piorar". Então voltei a ficar em silêncio e aguardava ele responder mensagens no celular ao mesmo tempo que formulava o boletim de ocorrências, na boa vontade que ele achava que tinha que ter.

Nem mesmo uma patrulha foi feita para ver se algum dos suspeitos era encontrado, já que eram dois e um dos criminosos havia fugido a pé. Comecei a juntar as peças, e entendi que tudo aquilo ali fazia parte de um sistema bruto, ignorante, onde o cidadão não é a prioridade. Não se trata de direitos humanos, a violência não pode ser resolvida com mais violência. Eu era um cidadão impotente, que havia sido assaltado, estava em choque, muito nervoso e, ainda mais do que isso, era retrucado como se tivesse alguma culpa de aquilo ter acontecido.

Me senti um estorvo à Polícia de São Paulo, estava apenas dando trabalho a eles que estavam ocupados no celular, ou fazendo brincadeiras entre si, como vi na delegacia. Entendi que a militarização da polícia os deixa insensatos, donos da verdade, como se a obrigação deles fosse um "enchimento de saco". Fiz o B.O. e saí da delegacia com o papel em mãos, sem esperança, senti o peso de um sistema defasado que me destratou, e mesmo com a gravidade da situação, nada foi feito além disso.

E agora? – Agora você espera que, se localizarmos seu carro por aí, vamos ligar.

Tinha uma visão errada, e agora entendo que de repente eu errei... Afinal, deveria ter reagido e levado um tiro, do que contar com a Polícia Militar de São Paulo, que foi o meu pior erro. E que de repente, se eu tivesse sido baleado a polícia chegaria mais rápido e as mensagens no WhatsApp seriam uma prioridade menor.

Derick Willi

Fonte: Brasil 247

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