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quinta-feira, 20 de março de 2014

Brasil: ditadura, nunca mais!

Advogado Maurício Gentil

Bem disse a jornalista Cynara Menezes, em matéria publicada na Revista Carta Capital (Edição nº 791 – 19 de março de 2004), cujo significativo título é “Fardados e Farsantes – 50 anos do golpe – A reedição da Marcha pela Família com Deus tenta escorar-se nas Forças Armadas para ganhar fôlego”: “Em março de 1994, no aniversário de 30 anos do golpe, não apareceu ninguém disposto a ressuscitar a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, apoio fatal dos privilegiados à deposição de João Goulart em 1964 (...) Em março de 2004, tampouco as viúvas da “revolução” se ouriçaram. O que explica essa agitação às vésperas dos 50 anos?”.

A indagação tem respeitáveis e preocupantes motivos. Em março de 2014, surpreendentemente, há pessoas que, sem nenhum constrangimento, mobilizam-se para defender não só o golpe militar de 1964, como também a ditadura militar que perdurou até 1985, mas de cuja herança autoritária ainda não nos livramos em definitivo.

E se existem segmentos da sociedade que, atualmente, mesmo após mais de vinte e cinco anos da redemocratização (cujo marco formal é a promulgação da Constituição de 1988), não têm qualquer constrangimento em defender a ditadura militar, é porque algo está muito errado e é preciso refletir sobre isso para adotar as democráticas providências que tenham efetividade na reversão desse quadro.

Com efeito, não podemos considerar natural a defesa – entusiasmada, até – de um regime político de terror, de repressão, de supressão das liberdades em geral (públicas e individuais), de práticas sistemáticas das mais diversas formas de tortura física e psicológica, homicídios, desaparecimentos forçados, ocultamentos de cadáveres e de uso da força desmedida e ilimitada contra opositores políticos, censura prévia aos meios de comunicação e manifestações artísticas, entre outros tantos inúmeros, inaceitáveis e indefensáveis males de um período nefasto de nossa história.

Os déficits de nossa democracia ainda em consolidação devem ser solucionados pela via democrática e não pela via autoritária. Precisamos avançar nas conquistas democráticas e não abrir mão delas. Combater o retrocesso é nosso dever cívico.

Uma boa pauta em busca dos necessários avanços democráticos – e, ao mesmo tempo, de repúdio aos ensaios golpistas que de vez em quando emergem das profundezas para sondar a receptividade – deve abranger, minimamente, os seguintes aspectos:

1. O resgate sério e efetivo da memória histórica do período de terror; somente o pleno conhecimento da história, com acesso efetivo aos documentos e provas existentes, será capaz de manter informadas as gerações presentes e futuras para que fiquem eternamente vigilantes em defesa da democracia. Nesse sentido, é preciso ir mais além do que promete o trabalho da Comissão Nacional da Verdade, que lamentavelmente parece ter claudicado no seu importantíssimo papel, por variados fatores (sobre o assunto, já nos posicionamos anteriormente, em coluna publicada em 16/05/2012);

2. O efetivo processamento e julgamento dos torturadores. A impunidade da tortura do passado, que faz com que convivamos naturalmente com torturadores como se nada de mal à humanidade tivessem feito, leva à manutenção da sua prática no presente e no futuro. Embora não desenvolvidas de modo institucional e articulado por organismos estatais, são conduzidas isoladamente por agentes públicos que, talvez levando em conta o passado, acreditam e confiam na impunidade de tais crimes. Nesse sentido, a reversão dos efeitos do julgamento, pelo STF, da ADPF nº 153, é essencial. E essa reversão é processualmente possível, ante jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos pela invalidade de auto-anistia de crimes contra a humanidade, como a operada pela Lei nº 6.683/79. Também já escrevemos anteriormente sobre esse aspecto, em colunas publicadas em 19/11/2008 e 05/05/2010;

3. A desmilitarização da polícia. Polícia militar é resquício autoritário da ditadura. Democracias consolidadas em poder civil devem ter suas polícias a atuar sob perspectiva constitucional da segurança pública, para atendimento de suas finalidades democráticas essenciais, limitando o papel das Forças Armadas à defesa da nossa soberania territorial e de nossas fronteiras. Existem, nesse sentido, propostas de emenda à constituição tramitando no Congresso Nacional;

4. Defender o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, permanentemente, sem seleção de classe e/ou prestígio social ou poder econômico. A vigilância cívica das garantias contra os abusos de poder não pode se limitar aos casos em que eles ocorrem contra pessoas influentes ou que têm maior visibilidade pública, mas se estender permanentemente aos casos em que, infelizmente, nas periferias desse país, atingem os marginalizados, explorados e esquecidos do sistema sócio-politico-econômico (confira a nossa coluna sobre Indignações Seletivas, publicada em 17/08/2011);

5. Combater a criminalização dos movimentos sociais e dos legítimos protestos; a intimidação restritiva dessas liberdades fundamentais é vizinha da repressão e do abuso de poder próprios de regimes ditatoriais. Também já nos posicionamos sobre esse aspecto na coluna publicada em 19/02/2014;

6. Efetuar reforma política efetiva, que coíba a nefasta influência do poder econômico no processo eleitoral e, mais importante ainda, que efetive os mecanismos constitucionais de democracia participativa (sobre o tema, também já escrevemos, em colunas publicadas em 11/12/2013, 03/07/2013 e 25/06/2013).

Essas são premissas essenciais para que retrocessos autoritários sejam descartados. Somente eliminando por completo as nefastas heranças de uma transição “lenta, gradual e segura” poderemos realmente avançar nas conquistas democráticas. Às vésperas dos cinquenta anos do golpe militar, é preciso bradar, permanentemente: Brasil, ditadura nunca mais!

Fonte: Portal Infonet 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Conheça as opiniões de vários parlamentares sobre temas relacionados à reforma política



Tipo de reforma política - ampla ou fatiada

  • O presidente do Senado, José Sarney, defende reforma baseada em alguns temas importantes e consensuais, com o argumento de que isso facilitará sua aprovação ainda neste ano. Ele quer correr com esse assunto pelo risco de nada mudar, caso muito tempo se passe.
  • A posição de Aécio Neves (PSDB-MG) é semelhante, mas ele acha que não se deve esperar o consenso, e sim colocar os temas em votação.
  • Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) defende uma reforma ampla.
  • Jayme Campos (DEM-MT) defende o debate aprofundado sobre o financiamento público de campanha; a fidelidade partidária; a suplência de senadores; e os critérios de escolha dos candidatos. Ele também quer que as eleições municipais sejam unificadas às eleições gerais.
  • Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) deseja que a reforma aconteça de forma fatiada, de acordo com o grau de urgência das medidas. Primeiramente entrariam temas como o uso da máquina pública para reeleição e, mais tarde, discussões complexas como o estabelecimento do voto proporcional, voto distrital puro, voto distrital misto ou voto em lista fechada.
  • Marisa Serrano (PSDB-MS) considera importantes temas como o índice de desempenho; a fidelidade partidária; o financiamento público de campanha, voto obrigatório; lista aberta ou fechada; voto distrital misto ou distrital puro.

Forma de discussão - em comissão de notáveis ou comissão mista ampla

  • Eunício Oliveira (PMDB-CE) acredita que uma comissão mista para sistematizar as propostas de reforma política no Congresso seria o mais indicado.
  • Sarney acredita que o trabalho numa comissão mista e ampla atrasaria a reforma: "Voltaríamos à estaca zero".
  • Independentemente das comissões oficiais que estudarão o assunto nas duas Casas, deputados e senadores tentam formar uma ampla frente parlamentar mista para que os debates tenham grande participação popular. No Senado a frente já tem a adesão de Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Randolfe Rodrigues e José Pimentel (PT-CE); das senadoras Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Lídice da Mata (PSB-BA) e Marinor Brito (PSOL-PA).

Sistemas de voto - proporcional, distrital, distrital misto e distritão

  • O PMDB quer o fim do voto proporcional, para evitar que um deputado bem votado "puxe" candidatos de seu partido mesmo que não tenham votação expressiva.
  • O PT quer urgência na reforma, mas trabalhará para manter o voto proporcional para deputados e vereadores. Para o partido, a adoção do voto majoritário na Câmara representa a negação dos partidos políticos. A proposta do "distritão" é criticada pelo PT, que defende a manutenção do sistema proporcional - desde que a lista aberta seja substituída pela lista fechada.
  • Segundo o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o "distritão" significa abolir definitivamente os partidos políticos, pois leva a uma personalização ainda maior das campanhas [já que o voto se destina unicamente ao candidato] e torna as eleições ainda mais caras, privilegiando os candidatos mais ricos. Humberto Costa argumenta que o voto no partido, e não nas pessoas, unificará os discursos das legendas, levando ao fortalecimento das ideologias.
  • Nessa mesma linha de raciocínio, a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) argumenta que "os partidos são fundamentais porque trazem às campanhas eleitorais o debate de idéias e de programas, debate que seria eliminado se o 'distritão' fosse implantado". Ela, no entanto, já disse ser favorável à discussão do voto distrital misto.
  • O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) defende o 'distritão', segundo o qual todos os candidatos do Legislativo ficam sujeitos a eleição majoritária: "É mais simples e é a linguagem que o povo entende: quem tem mais voto entra", diz. A ideia agrada também a José Sarney e ao vice-presidente da República, Michel Temer.
  • Presidente da Comissão da Reforma Política, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) segue na mesma opinião: que sejam eleitos os mais votados, independentemente do desempenho no partido. Em contrapartida, faz duras críticas ao sistema de lista fechada : "ele levaria, hoje, à ditadura das cúpulas partidárias". Para ele, o voto distrital puro seria o ideal, mas reconhece a dificuldade de ser instalado.
  • Já Pedro Taques (PDT-MT) quer o voto distrital. Esse também é o discurso de Jayme Campos, para quem a maioria dos partidos age como "balcão de negócios". Disse ele: "Existem partidos que são praticamente capitanias hereditárias. Eu sou contra o voto fechado, a lista fechada, tendo em vista que isso privilegia quem comanda os partidos nos estados".
  • Para Marisa Serrano, a melhor opção é o voto distrital misto, de acordo com o entendimento oficialmente adotado pelo seu partido. Embora também seja do PSDB, Aloysio Nunes (SP) ainda insiste que o "ideal seria adotar o voto distrital puro", no qual os estados são divididos em distritos e cada distrito escolhe, de forma majoritária, apenas um representante. "Fica mais fácil para o cidadão fazer cobranças de seu representante", argumenta.
  • Roberto Requião defende a adoção de lista eleitoral dupla, na qual o eleitor votaria duas vezes, uma em lista fechada elaborada pelos partidos e outra em lista aberta. A distribuição das cadeiras do Legislativo teria "cotas" para cada um dos sistemas.

Financiamento de campanha público ou privado

  • Humberto Costa defende o financiamento público de campanha, o que, em tese, poria fim à influência do poder econômico sobre as eleições. Posição semelhante tem a líder do PSOL, senadora Marinor Brito, e os senadores Rodrigo Rollemberg e Jayme Campos. Pedro Taques também deve votar nessa linha.
  • O PT defende o financiamento público de campanha, pois isso evitaria, por exemplo, o encarecimento das campanhas.
  • Em seu primeiro discurso em Plenário, o senador Vicentinho Alves (PR-TO), indicado como suplente na Comissão da Reforma Política disse que o financiamento público de campanha é a melhor forma de democratizar o processo eleitoral.

Cláusula de barreira

  • Jarbas Vasconcelos defendeu a instituição da cláusula de desempenho eleitoral para a chegada dos partidos ao Congresso Nacional.
  • Na avaliação de João Durval (PDT-BA), uma das principais alterações a ser feita é a redução no número de partidos e a extinção daqueles fundados com o objetivo gerar dinheiro, de sustentar seu "dono" ou de conseguir tempo na propaganda gratuita no rádio e na televisão. Para João Durval, a reforma poderia enxugar o número de partidos para seis ou sete.

Revogação de mandatos

  • Randolfe Rodrigues e Marinor Brito defendem a possibilidade de revogação popular de mandato ao longo do seu exercício.

Tamanho do mandato do presidente da República
  • O senador Itamar Franco prometeu apresentar uma proposta de emenda à Constituição que limita a dois mandatos o número de vezes que uma pessoa pode ser presidente da República ao longo da vida.

Coligações

  • O senador Jarbas Vasconcelos defende a extinção das chamadas coligações partidárias nas eleições proporcionais, ideia apresentada por ele em 2007 por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 29/07. O texto mantém as coligações entre partidos políticos apenas para as eleições majoritárias. Na opinião de Jarbas Vasconcelos, o instituto da coligação partidária em pleitos proporcionais "é um mero esquema eleitoral, uma aberração, uma excrescência que não existe em lugar algum do mundo" e é usado como moeda de troca entre partidos.

Mecanismos de democracia direta

  • Na avaliação de Marinor Brito (PSOL-PA), a reforma política deverá tornar mais comum o uso de referendos e plebiscitos para assuntos estratégicos para o país e de alta relevância social.

Milena Galdino, Raíssa Abreu, Paulo Vasconcelos, Augusto Castro, Laércio Franzon e Roberto Homem

Fonte: Agência Senado

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dois ex-presidentes e nove ex-governadores na comissão da reforma política

A comissão instituída nesta quinta-feira (10) pelo presidente do Senado, José Sarney, para elaborar um anteprojeto de lei de reforma política, conta com senadores com intensa participação na vida política do país nas últimas décadas. Dos 12 integrantes da comissão, dois foram presidentes da República: Fernando Collor (PTB-AL) e Itamar, Franco (PPS-MG), companheiros na chapa que chegou ao Planalto em 1990, Collor como presidente e Itamar como o vice que assumiu a titularidade do cargo depois da renúncia do primeiro.

A comissão poderá contar ainda com a experiência de oito ex-governadores, aí mais uma vez incluídos Collor e Itamar. Collor chegou ao governo de Alagoas em 1989 e desse posto se projetou nacionalmente, por meio de ações administrativas e corte de altos salários acumulados por servidores, por isso ganhando então o título de "caçador de marajás". Itamar Franco (PPS-MG) elegeu-se governador em 1996, dois anos após deixar a Presidência com o legado da estabilidade monetária - alcançada com o Plano Real.

Roberto Requião (PMDB) governou o Paraná por três vezes, o último mandato encerrado no ano passado, após reeleição. Já esteve no Senado Federal de 1995 a 2002, agora retornando à Casa com o discurso de que o país precisa de reformas econômicas, inclusive com autonomia para o Banco Central. Agora terá de conciliar essa agenda com os temas da reforma política.

Secretário particular do avô Tancredo Neves, sua influência decisiva na escolha da carreira política, Aécio Neves (PSDB-MG) é outro ex-governador na comissão. Ele ficou á frente da administração de Minas Gerais por dois mandatos consecutivos, até o ano passado. Antes, foi três vezes deputado federal, da última vez exercendo o cargo de presidente da Câmara dos Deputados. É nome de bom trânsito nas duas Casas.

O engenheiro florestal Jorge Viana (PT-AC) começou a vida política apoiando trabalhadores rurais e seringueiros, quando se aproximou do líder Chico Mendes. Em menos de uma década, conquistou seu primeiro mandato como governador do Acre, se reelegeu ao cargo e agora, no Senado, recebe a tarefa de pensar a reforma política. Estará na companhia de Antônio Carlos Valadares (PSB), que se reelegeu agora senador, já esteve à frente do governo de Sergipe, e que também já passou pela Assembléia Legislativa de seu estado e pela Câmara dos Deputados.

O senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) governou Santa Catarina por dois períodos consecutivos, até o ano passado. Passou pela Prefeitura de Joinville depois de exercer mandatos de deputado estadual e federal. Foi próximo a Ulisses Guimarães e chegou a coordenar a campanha presidencial do histórico líder da oposição ao governo militar. Também presidiu o PMDB.

Bancário e radialista, o senador José Wellington Barroso de Araújo Dias (PT) chegou agora ao Senado, depois de governar o Piauí por dois períodos seguidos. Sua estréia eleitoral deu-se em 1992, quando foi eleito vereador em Teresina. Na sequência, elegeu-se deputado estadual e federal, quando se destacou em investigações sobre o crime organizado.

Na comissão da reforma política, estará também o ex-governador Eduardo Braga (PMDB), que governou o Amazonas de 2003 a 2010, período de dois mandatos. Depois de se eleger vereador, em 1983, saltou sucessivamente para a Assembléia do Amazonas, a Câmara dos Deputados e os postos de vice-prefeito e prefeito de Manaus.

Mas será de um senador três vezes ministro a presidência da Comissão da Reforma Política. Francisco Dornelles (PP-RJ) foi titular da pasta da Fazenda no governo Sarney; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso; e voltou a ser ministro do Trabalho, no segundo mandato. A partir de 1986, elegeu-se deputado federal quatro vezes seguidas. Também já esteve no comando da Secretaria da Receita Federal.

Ministério Público

Os dois integrantes da comissão com trajetória político-eleitoral mais recente são Demóstenes Torres (DEM-GO), que renovou agora seu mandato de senador, e Pedro Taques (PDT-MT), no exercício de seu primeiro mandato. Os dois compartilham trajetória profissional anterior no Ministério Público. Demóstenes, que nos últimos dois anos presidiu a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), ganhou também reconhecimento pelo combate ao crime quando esteve à frente da Secretaria de Justiça em Goiás. Como procurador da República, Pedro Taques atuou em investigações contra o crime organizado. Renunciou à carreira para assumir o mandato de senador.

Gorette Brandão

Agência Senado

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